quarta-feira, 6 de setembro de 2023

VALORIZAÇÃO DA VIDA: DIGA NÃO AO SUICÍDIO

Segundo Camus (2004, p. 17), “só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da Filosofia”. O suicídio consiste na morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela vítima, por escolha própria.



A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que o suicídio é um grave problema de saúde pública, uma vez que aproximadamente 700 mil pessoas, anualmente, morrem em decorrência deste ato. Essa Organização informa que a maioria dos suicídios acontece entre os homens moradores em países de baixa e média renda (OMS, 2022). 

No Brasil, até 2021 havia em média 13 mil mortes por suicídio por ano, ou seja, uma a cada quase 45 minutos, ou cerca de 32 por dia. Contudo, em 2022, o número de suicídios no país cresceu 11,8%. Dados do Ministério da Saúde indicam que o Brasil teve 8 suicídios por 100 mil habitantes em 2022, contra 7,2 em 2021. Destaca-se que o suicídio ocorre em todas regiões brasileiras e é a segunda maior causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos, ficando atrás apenas dos acidentes de trânsito (BRASIL, 2022).

Neste sentido, percebe-se a importância do tema ser discutido, com vistas a buscar formas de prevenção e tratamento para as pessoas que se encaixam nos grupos de risco (se é que se possa chamar assim). Hoje, o suicídio é percebido como uma “epidemia silenciosa”, que ainda (infelizmente) soa como um tabu. 

Observa-se que as pessoas que cometem suicídio frequentemente apresentam problemas emocionais, como quadros de Depressão profunda, Ansiedade Generalizada (AG), Esquizofrenia, Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Bipolar, dentre outros transtornos, além do uso abusivo de drogas, incluíndo o álcool e medicamentos. Para alguns pesquisadores, o aumento do índice de suicídio deve-se a banalização da valorização da vida. 

Atualmente, parece que o ser humano tem apresentado baixissima tolerância à frustração, o que o tem levado a procurar "sair do problema", sem resolvê-lo. Logo, é imprescindível que essa pessoa encontre, além da compreensão da família e dos amigos, o apoio psicológico especializado.

O indivíduo considerado do grupo de risco para o suicídio muda suas condutas, o que passa a prejudicá-lo, seja no trabalho, na vida social, na vida escolar ou em qualquer outro âmbito. Por isso, tais alterações devem servir de alerta. 

O suicídio também tem aumentado entre as crianças e adolescentes. O Ministério da Saúde confirma que “4% dos adolescentes brasileiros apresentam sinais depressivos e 1 a cada 4 crianças já apresentou indícios da doença”. Neste cenário, os pais precisam ficar atentos a algumas mudanças de comportamento, como:

  • Mudanças na rotina do sono (insônia ou alteração de horários para dormir e acordar);
  • Isolamento da família e do contato social de forma repentina;
  • Comentários como “eu prefiro morrer do que passar por isso”;
  • Uso de roupas de mangas longas, mesmo quando está calor, comportamento que pode indicar marcas de automutilação nos braços ou antebraços;
  • Diminuição do rendimento escolar (BRASIL, 2022).

Para piorar este cenário, a  Organização Pan-Americana de Saúde (2019) adverte que para cada suicídio, há muito mais pessoas que o tentam a cada ano. O Ministério da Saúde do Brasil relata que acontecem 16 milhões de tentativas por ano no mundo, sendo que entre os brasileiros para cada morte decorrente do suicídio temos outras 20 tentativas (BRAIL, 2022).

Portanto, é fundamental a discussão do problema pela sociedade (incluindo as famílias) e políticas públicas que possam evitar este ato fatal. Ressalta-se que a subnotificação das tentativas de suicídio é frequente porque na maioria das vezes, ocorre por meio de ingestão de medicamentos e pesticidas, o que favorece a distorção na interpretação ou na negação do ato em si

Vale destacar que são observadas algumas etapas até se chegar ao suicídio:

Intenção suicida: expectativa subjetiva e o desejo de que um ato autodestrutivo resulte em morte; 

Pensamentos de morte: ocorrem pensamentos como “A vida não vale a pena”, “Tenho vontade de dormir e não acordar mais”, “Deus poderia me levar”. Indicam em geral desesperança ou outros sintomas depressivos; 

Ideação suicida: pensamento de servir como agente de sua própria morte; 

Plano suicida: plano de como executar sua própria morte. Pode incluir métodos, locais, datas, providências. Em contextos de maior impulsividade, as tentativas podem ocorrer mesmo sem planejamento; 

Tentativa de suicídio: comportamento autodestrutivo com consequências não fatais, com a intenção de morrer; 

Suicídio consumado: morte autoprovocada resultante de um ato positivo ou negativo, com evidências de que a pessoa apresentava a intenção de morrer;

Autolesão sem ideação suicida (ASIS): é definida como qualquer comportamento, intencional, envolvendo agressão direta ao próprio corpo, sem intenção suicida e por razões não socialmente ou culturalmente compreendidas. ASIS é um comportamento de risco e que pode estar em um continuum de comportamento suicida, devendo sempre se avaliada; 

Suicídio oculto: suicídio consumado não classificado como suicídio (afogamento; intoxicações, acidentes de carros, mortes por causas desconhecidas); estas lesões não são usualmente identificadas como intencionais, porém, salienta-se que se o fossem, os índices oficiais seriam mais precisos; 

Sobreviventes do suicídio: aqueles que perderam uma pessoa próxima por suicídio. Outro termo utilizado é “enlutados por suicídio” (BRASIL, 2021). 

De acondo com Santos et al. (2017, p. 2), “identificar os fatores que se associam à presença de ideação suicida nos indivíduos pode constituir uma importante ferramenta para que ações de prevenção e proteção sejam planejadas”.

Logo, é preciso que as famílias, os amigos, os colegas de trabalho, os grupos religiosos e os professores fiquem atentos para identificar pessoas com depressão ou outras psicopatologias, bem como aquelas que façam uso abusivo de drogas a fim de incentivá-los a procurar ajuda psicológica.


Silvia Laura Abrahão

2 comentários:

  1. Ótimo artigo bem elucidativo e nos fazer reflexões muito oportunas no momento e que o suicídio cresce no Brasil e no.mundo.

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