sábado, 13 de junho de 2020

A IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO


Nas últimas décadas vários estudos têm evidenciado que o leite materno é o alimento ideal para a nutrição infantil, uma vez que contém todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento saudável da criança, principalmente nos primeiros seis meses de vida (ALVES et. al., 2010) (CUNHA: LEITE; ALMEIDA, 2015). 



A água em quantidade suficiente, proteínas, gorduras, vitaminas, sais, cálcio e fósforo adequados e suficientes para a criança, além de quantidade superior de lactose, que é facilmente absorvida pelo intestino da criança (presença da enzima, lípase, favorece a digestão de gorduras e facilita a absorção do leite materno), diferentemente dos outros leites que são mais pesados, fazem do leite materno o alimento ideal para a criança até os seis meses, embora não possua grande quantidade de ferro (ALVES et. al., 2010).

Segundo Walker (2010), o próprio colostro já conta com substâncias que protegem a criança de infecções e doenças imunomediadas, além de estimular também a maturação do sistema imunológico da mucosa intestinal do lactente.

Neste contexto, percebe-se que a amamentação deve começar nos primeiros momentos de vida da criança. Corroborando com esta visão, Edmond e outros (2006) demonstraram que quanto maior o atraso no início do aleitamento materno, maiores são as chances de mortalidade de recém-nascidos decorrentes de infecções, sendo que a ocorrência do aleitamento materno na primeira hora de vida evidenciou redução significativa (22%) no número de óbitos no período neonatal.

Na mesma sintonia, Oddy (2013) atesta que o efeito protetor do colostro pode estar relacionado a vários mecanismos, que incluem a colonização intestinal por bactérias específicas do leite materno e a sua capacidade de produzir fatores imunológicos bioativos fundamentais para o recém-nascido.

Para promover um melhor entendimento sobre o tema, Dias, Freire e Franceschini (2010, p. 477) explicam que a expressão, aleitamento materno exclusivo, consiste no “provimento de todos os líquidos, energia e nutrientes exclusivamente através do leite materno, diretamente da mama ou extraído, com a possibilidade do uso de algum suplemento medicamentoso”. O aleitamento materno predominante ocorre quando o “lactente recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água, como suco de frutas e chás”. Já, o aleitamento parcial é quando, além do leite materno, há a introdução de outros alimentos.

O aleitamento materno exclusivo é recomendado pela Organização Mundial de Saúde até os seis meses de vida da criança, com a complementação alimentar (leite materno + alimentação complementar) até os dois anos de idade (WHO, 2013) (Cavalcante; Lima; Arruda, 2016) (Dias; Freire; Franceschini, 2010). 

Nesta perspectiva, Dias, Freire e Franceschini (2010, p. 480) advertem que a introdução da alimentação complementar precoce (antes dos seis meses), sob o ponto de vista nutricional, é desvantajosa, já que a redução do aleitamento materno pode interferir na absorção de nutrientes importantes, como o ferro e o zinco, o que está relacionado à maior incidência de doenças crônicas não transmissíveis na idade adulta. 

 Dias, Freire e Franceschini (2010) acrescentam que “a complementação com outros líquidos não nutritivos diminui o volume total do leite materno ingerido, independentemente do número de mamadas, e precipita a introdução da mamadeira”. Os autores ainda esclarecem que o uso da mamadeira, por si só já é prejudicial à criança, considerando-se que essa é fonte de contaminação e interfere na livre amamentação.

O Ministério da Saúde (BRASIL, 2009) aponta como benefícios trazidos do aleitamento materno: a redução na morbimortalidade por diarréias e infecções respiratórias; a diminuição do risco de obesidade na infância; bem como a redução do risco de hipertensão, diabetes e hipercolesterolemia na vida adulta.

Alves e seus colaboradores (2010, p. 32) preconizam que as vantagens do aleitamento materno podem ser percebidas sob quatro óticas: (I) aspecto emocional do bebê e da mãe; (II) aspecto nutricional do leite; (III) aspecto imunológico; e (IV) aspecto morfofuncional.  Ademais, quando a criança é amamentada de forma natural há a estimulação para o desenvolvimento neuro oclusal. As autoras esclarecem:

Ao sugar o peito da mãe, o bebê respira pelo nariz; o ato de morder, avançar e retrair a mandíbula faz com que todo sistema muscular, principalmente masseteres, temporais, e pterigóideos, vão se desenvolvendo e adquirindo o tônus muscular necessário para receber a primeira dentição (ALVES et. al., 2010, p. 32).

Neste sentido, percebe-se que a amamentação está relacionada ao estabelecimento da fonação, da deglutição e da respiração correta, o que estimula o desenvolvimento normal da estrutura crânio-facial da criança, “corrigindo a desproporção crânio cefálico/crânio facial, sintomatologia de distoclusão e diminuição da altura da face, observadas no neonato” (ALVES et. al., 2010, p. 32) (Dias; Freire; Franceschini, 2010).

Os efeitos protetores advindos da ingestão do leite materno, segundo estudo realizado por Lack e Khakoo (2014), persistem durante a primeira década de vida da criança, protegendo-a de doenças atópicas, inclusive aquelas de tônus familiar.

Vários estudos, dentre esses os realizados por Siqueira e Monteiro (2007), por Cavalcante, Lima e Arruda (2016) e por Kelishadi e Farajian (2014) demonstram que o aleitamento materno melhora o desenvolvimento neurológico, visual, psicossocial da criança, bem como a proteger contra várias morbidades, além de se mostrar como agente protetor contra o desenvolvimento de sobrepeso e da obesidade.

Corroborando com esta visão, Kelishadi e Farajian (2014) afirmam que vários estudos apontam que a amamentação pode proteger contra a hipertensão arterial e problemas cardiovasculares, dislipidemia e obesidade na vida adulta.

No estudo realizado por Nobre e Lessa (2016), que aferiu a pressão arterial, a antropometria e o nível socioeconômico de crianças de 5 anos da cidade de Adamantina (MG) foi constatado que crianças que foram amamentadas por período inferior aos seis meses, recomendado pela OMS, apresentaram pressão arterial elevada aos cinco anos, quando comparadas a crianças amamentadas por períodos superiores. Resultados semelhantes foram encontrados por Naghettini e colaboradores. (2010),  no estudo realizado com 519 crianças, na faixa etária entre 3 e 10 anos, moradoras de Goiânia (GO)  que identificou elevada pressão arterial em 242 (51,2%) crianças, as quais foram submetidas ao aleitamento materno predominante e/ou exclusivo por tempo inferior a 6 meses.

Entretanto, resultados encontrados por Crispin, Peixoto e Jardim (2014) no estudo realizado com 276 crianças de dois a cinco anos, residentes também em Goiânia (GO), demonstraram que a elevação da pressão arterial não foi associada à amamentação exclusiva por um tempo igual ou superior a quatro meses. 

Deste modo, Nobre e Lessa (2016) advertem que, no Brasil, há poucas informações disponíveis sobre a incidência de pressão arterial elevada na infância, o que dificultou um estudo mais detalhado e a comprovação da amamentação como fator de proteção contra esse mal. Além disso, as autoras lembram que o resultado aferido por elas também pode ter sido influenciado pela síndrome do avental branco[1] , já que no experimento a pressão foi conferida uma única vez e tal fato foi o pioneiro para a maioria das crianças da amostra.


[1] “Define-se como síndrome do avental branco a condição clínica na qual as pressões arteriais sistólica e diastólica são maiores que 20 mmHg e 10 mmHg, respectivamente, em relação aos níveis obtidos pela medida da pressão de consultório, comparados com aqueles registrados pela monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) durante o período de vigília ou pela monitorização residencial da pressão arterial  (MRPA)”. Em outras palavras, é a alteração da pressão arterial propiciada pela tensão de estar diante de um profissional de saúde (avental branco) (GUEDIS et.al. 2008, p. 46).

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