Nas últimas décadas vários estudos têm evidenciado que o leite materno é
o alimento ideal para a nutrição infantil, uma vez que contém todos os
nutrientes necessários para o desenvolvimento saudável da criança,
principalmente nos primeiros seis meses de vida (ALVES et. al., 2010) (CUNHA:
LEITE; ALMEIDA, 2015).
A água em quantidade suficiente, proteínas, gorduras,
vitaminas, sais, cálcio e fósforo adequados e suficientes para a criança, além
de quantidade superior de lactose, que é facilmente absorvida pelo intestino da
criança (presença da enzima, lípase, favorece a digestão de gorduras e facilita
a absorção do leite materno), diferentemente dos outros leites que são mais
pesados, fazem do leite materno o alimento ideal para a criança até os seis
meses, embora não possua grande quantidade de ferro (ALVES et. al., 2010).
Segundo Walker (2010), o próprio colostro já conta com substâncias que
protegem a criança de infecções e doenças imunomediadas, além de estimular
também a maturação do sistema imunológico da mucosa intestinal do lactente.
Neste contexto, percebe-se que a amamentação deve começar nos primeiros
momentos de vida da criança. Corroborando com esta visão, Edmond
e outros (2006) demonstraram que quanto maior o atraso no início do aleitamento
materno, maiores são as chances de mortalidade de recém-nascidos decorrentes de
infecções, sendo que a ocorrência do aleitamento materno na primeira hora de
vida evidenciou redução significativa (22%) no número de óbitos no período
neonatal.
Na mesma sintonia, Oddy (2013) atesta que o efeito protetor do colostro
pode estar relacionado a vários mecanismos, que incluem a colonização
intestinal por bactérias específicas do leite materno e a sua capacidade de
produzir fatores imunológicos bioativos fundamentais para o recém-nascido.
Para promover um melhor entendimento sobre
o tema, Dias, Freire e Franceschini (2010, p. 477) explicam que a expressão,
aleitamento materno exclusivo, consiste no “provimento de todos os líquidos,
energia e nutrientes exclusivamente através do leite materno, diretamente da
mama ou extraído, com a possibilidade do uso de algum suplemento
medicamentoso”. O aleitamento materno predominante ocorre quando o “lactente
recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água, como suco de
frutas e chás”. Já, o aleitamento parcial é quando, além do leite materno, há a
introdução de outros alimentos.
O aleitamento materno exclusivo é recomendado pela Organização Mundial
de Saúde até os seis meses de vida da criança, com a complementação alimentar
(leite materno + alimentação complementar) até os dois anos de idade (WHO,
2013) (Cavalcante; Lima; Arruda,
2016) (Dias; Freire; Franceschini,
2010).
Nesta perspectiva, Dias, Freire e Franceschini (2010,
p. 480) advertem que a introdução da alimentação complementar precoce (antes
dos seis meses), sob o ponto de vista nutricional, é desvantajosa, já
que a redução do aleitamento materno pode interferir na absorção de nutrientes
importantes, como o ferro e o zinco, o que está relacionado à maior incidência
de doenças crônicas não transmissíveis na idade adulta.
Dias, Freire e Franceschini (2010) acrescentam
que “a complementação com outros líquidos não nutritivos diminui o volume total
do leite materno ingerido, independentemente do número de mamadas, e precipita
a introdução da mamadeira”. Os autores ainda esclarecem que o uso da mamadeira,
por si só já é prejudicial à criança, considerando-se que essa é fonte de
contaminação e interfere na livre amamentação.
O Ministério da Saúde (BRASIL,
2009) aponta como benefícios trazidos do aleitamento materno: a redução na
morbimortalidade por diarréias e infecções respiratórias; a diminuição do risco
de obesidade na infância; bem como a redução do risco de hipertensão, diabetes
e hipercolesterolemia na vida adulta.
Alves e seus colaboradores (2010, p. 32) preconizam que as vantagens do
aleitamento materno podem ser percebidas sob quatro óticas: (I) aspecto
emocional do bebê e da mãe; (II) aspecto nutricional do leite; (III) aspecto
imunológico; e (IV) aspecto morfofuncional. Ademais, quando a criança é amamentada de
forma natural há a estimulação para o desenvolvimento neuro oclusal. As autoras
esclarecem:
Ao sugar o peito da mãe, o bebê respira pelo nariz; o ato de morder,
avançar e retrair a mandíbula faz com que todo sistema muscular, principalmente
masseteres, temporais, e pterigóideos, vão se desenvolvendo e adquirindo o
tônus muscular necessário para receber a primeira dentição (ALVES et. al.,
2010, p. 32).
Neste sentido, percebe-se que a amamentação está relacionada ao
estabelecimento da fonação, da deglutição e da respiração correta, o que
estimula o desenvolvimento normal da estrutura crânio-facial da criança, “corrigindo
a desproporção crânio cefálico/crânio facial, sintomatologia de distoclusão e
diminuição da altura da face, observadas no neonato” (ALVES et. al., 2010, p.
32) (Dias; Freire; Franceschini,
2010).
Os efeitos protetores advindos da ingestão do leite
materno, segundo estudo realizado por Lack e Khakoo (2014), persistem durante a
primeira década de vida da criança, protegendo-a de doenças atópicas, inclusive
aquelas de tônus familiar.
Vários estudos, dentre esses os realizados por Siqueira e Monteiro
(2007), por Cavalcante, Lima e Arruda (2016) e por Kelishadi e
Farajian (2014) demonstram que o aleitamento materno melhora o desenvolvimento
neurológico, visual, psicossocial da criança, bem como a proteger contra várias
morbidades, além de se mostrar como agente protetor contra o desenvolvimento de
sobrepeso e da obesidade.
Corroborando com esta visão, Kelishadi e Farajian
(2014) afirmam que vários estudos apontam que a amamentação pode proteger
contra a hipertensão arterial e problemas cardiovasculares, dislipidemia e
obesidade na vida adulta.
No
estudo realizado por Nobre e Lessa (2016), que aferiu a pressão arterial, a
antropometria e o nível socioeconômico de crianças de 5 anos da cidade de
Adamantina (MG) foi constatado que crianças que foram amamentadas por período
inferior aos seis meses, recomendado pela OMS, apresentaram pressão arterial
elevada aos cinco anos, quando comparadas a crianças amamentadas por períodos
superiores. Resultados semelhantes foram encontrados por Naghettini e colaboradores. (2010), no estudo realizado com 519 crianças, na
faixa etária entre 3 e 10 anos, moradoras de Goiânia (GO) que identificou elevada pressão arterial em
242 (51,2%) crianças, as quais foram submetidas ao aleitamento materno
predominante e/ou exclusivo por tempo inferior a 6 meses.
Entretanto,
resultados encontrados por Crispin, Peixoto e Jardim (2014) no estudo realizado
com 276 crianças de dois a cinco anos, residentes também
em Goiânia (GO), demonstraram que a elevação da pressão arterial não foi
associada à amamentação exclusiva por um
tempo igual ou superior a quatro meses.
Deste
modo, Nobre e Lessa (2016) advertem que, no Brasil, há poucas informações
disponíveis sobre a incidência de pressão arterial elevada na infância, o que dificultou
um estudo mais detalhado e a comprovação da amamentação como fator de proteção
contra esse mal. Além disso, as autoras lembram que o resultado aferido por
elas também pode ter sido influenciado pela síndrome do avental branco[1]
, já que no experimento a pressão foi conferida uma única vez e tal fato foi o
pioneiro para a maioria das crianças da amostra.
[1]
“Define-se como síndrome do avental branco a condição clínica na qual as
pressões arteriais sistólica e diastólica são maiores que 20 mmHg e 10 mmHg,
respectivamente, em relação aos níveis obtidos pela medida da pressão de
consultório, comparados com aqueles registrados pela monitorização ambulatorial
da pressão arterial (MAPA) durante o período de vigília ou pela monitorização
residencial da pressão arterial (MRPA)”.
Em outras palavras, é a alteração da pressão arterial propiciada pela tensão de
estar diante de um profissional de saúde (avental branco) (GUEDIS et.al. 2008,
p. 46).
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