terça-feira, 31 de maio de 2022

O QUE SÃO OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM?

 Pesquisas demonstram que aproximadamente entre 5% e 15% da população escolar apresenta transtorno de aprendizagem. Estes transtornos são caracterizados pela discrepância entre o potencial cognitivo e o desempenho acadêmico, estando presente no indivíduo desde a fase mais precoce e persiste até a vida adulta. Carvalho, Ciasca e Rodrigues esclarecem que é possível identificar os transtornos de aprendizagem por meio de sinais neurológicos leves (soft signs), acompanhados, ou não, de comorbidades[1].



No estudo realizado por Carvalho, Ciasca e Rodrigues, junto a 25 crianças, de ambos os sexos com idade entre 7 e 11 ano, constatou-se que a idade motora de todos os sujeitos foi inferior à idade cronológica. Diante desta evidência, as autoras defendem que “a motricidade organiza as sensações e percepções que dão origem às aprendizagens cada vez mais complexas”, o que denota que a desorganização psicomotora pode levar às alterações na aprendizagem infantil. Para as autoras, “as crianças com dificuldades de aprendizagem costumam ter mais deficiência na noção de corpo, orientação, adaptação e exploração espacial”[1].

Os mais frequentes transtornos de aprendizagem são: Dislexia, Déficit de Atenção, Discalculia, Disortografia e Disgrafia[1][2].

A Dislexia frequentemente é percebida nas crianças em idade escolar, sobretudo no momento da aquisição da leitura e da escrita. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a Dislexia “como um conjunto de transtornos nos quais os padrões normais de aquisição de habilidades de leitura são perturbados desde os estágios iniciais do desenvolvimento”. Embora este transtorno não tenha cura, ele pode ser amenizado com tratamento apropriado – terapia e exercícios -, desenvolvido por profissionais das áreas de Neuropsicopedagogia, Fonoaudiologia e Psicologia[3].

Segundo o National Institute of Child Health and Human Development, a Dislexia:

 

[...] é um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração. Essas dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas[4].

 

Macedo e Bittar acrescentam que, geralmente a Dislexia é acompanhada pela Disortografia, transtorno de aprendizagem que compromete o desenvolvimento nas habilidades da escrita[5].

A Disortografia é um transtorno que atinge a grafia, o que consequentemente compromete o desenvolvimento do processo de aprendizagem da escrita, sendo muitas vezes confundido (e rotulado) com uma dificuldade de aprendizagem.

Segundo Relvas, a Disortografia:

 

[...] é uma perturbação que afeta as aptidões da escrita e que se traduz por dificuldades persistentes e recorrentes na capacidade da criança em compor textos escritos. As dificuldades centram-se na organização, estruturação e composição de textos escritos; a construção frásica é pobre e geralmente curta, observa-se a presença de múltiplos erros ortográficos e má qualidade gráfica[6].

 Relvas elenca como sintomas da Disortografia:

·         A substituição, omissão, junção e separação de letras;

·         A troca de consoantes e vogais como f/v ou a/na;

·         A substituição de letras que se diferenciam pela sua posição no espaço (“b”/“d”);

·         Confusão com fonemas que apresentam dupla grafia (“ch”/“x”) - Casa/ caza;

·         Omissão da letra “h” nas palavras, por não ter correspondência fonêmica;

·         Ausência de sínteses e/ou associações entre fonemas e grafemas, trocando letras sem qualquer sentido;

·         A não separação das sequências gráficas, ex. o carro/ocarro;

·         Ignorar as regras de pontuação;

·         Esquecer de iniciar as frases com letra maiúscula[6].

 

A Disgrafia, conforme Sampaio, é um transtorno de aprendizagem caracterizado pela escrita considerada desviante às normas/padrão, ou seja, uma “caligrafia deficiente, com pouca definição da letra e má proporcionalidade. A autora distingui dois tipos de Disgrafia:

·         Motora, também conhecida como Discaligrafia que ocorre quando a criança desenvolve a leitura, mas apresenta dificuldade para escrever as letras, palavras e números, devido à má coordenação motora fina;

·         Perceptiva, quando a criança não relaciona a grafias (letras) e os seus sons (fonemas), fato que impede que ela leia e escreva[7].

 Sob esta perspectiva, Macedo e Bittar esclarecem que na Disgrafia a criança ao tentar recordar (letra e som) escreve lento, o que frequentemente também resulta em letras ilegíveis[5]. Para Sampaio, o tratamento da Disgrafia deve fundar-se na estimulação linguística global e na psicomotricidade, o que prediz uma equipe multidisciplinar - neurologistas, psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos[7].

O Déficit de Atenção também é um transtorno que pode prejudicar a aprendizagem, apesar de não ser um transtorno especificamente da aprendizagem, os seus sintomas impedem o desenvolvimento favorável deste processo. Sampaio elenca as principais características deste transtorno:

·         Dificuldade em seguir regras e planejamento;

·         Demora no desenvolvimento da fala (4 a 5 anos);

·         Atraso na coordenação motora;

·         Pouca noção do perigo;

·         Tendência em não terminar projetos;

·         Dificuldade em ficar sem se mexer[7].

  Outro transtorno de aprendizagem que também é confundido com dificuldade de aprendizagem é a Discalculia, que por sua vez consiste na dificuldade da criança identificar os números, desenvolver a contagem e a noção de quantidade (associada ao numeral), aspectos que, por conseguinte, impedem a execução das operações e o desenvolvimento do raciocínio lógico (resolução de problemas). Destaca-se que este transtorno não está associado a nenhuma perda visual ou auditiva[6].

Pimentel e Lara, seguindo a definição da Organização Mundial de Saúde, definem Discalculia:

 [...] como o termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades caracterizado por problemas no processamento de informações numéricas, aprendizagem de fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou fluentes. Se o termo Discalculia for usado para especificar esse padrão particular de dificuldades matemáticas, é importante também especificar quaisquer dificuldades adicionais que estejam presentes, tais como dificuldades no raciocínio matemático ou na precisão na leitura de palavras[8].

 De acordo com Coelho, o docente ciente do transtorno da Discalculia do aluno deve buscar fortalecer sua autoestima por meio de atividades que utilizem jogos e materiais concretos, já que estes facilitam o desenvolvimento do processo de aprendizagem destes estudantes, considerando-se que “é importante que este aluno possa observar, tocar, mexer num cubo quando está, por exemplo, a aprender os sólidos geométricos, caso contrário será difícil compreender as noções de lado, vértice e aresta”[21].

Por fim, Pimentel e Lara acrescentam que no “transtorno da Discalculia alguns processos cognitivos podem estar afetados, tais como: velocidade de processamento de informações; memória de trabalho; habilidades visuais, psicomotoras, perceptivos táteis; linguagem matemática”[8].

Referências

[1] CARVALHO, M. C.; CIASCA, S. M.; RODRIGUES, S. D. Há relação entre desenvolvimento psicomotor e dificuldade de aprendizagem? Estudo comparativo de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, dificuldade escolar e transtorno de aprendizagem. Revista de Psicopedagogia, v. 32, n. 99, p. 293-301, 2015. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862015000300003>. Acesso em: 19 ago 2021.

 [2] FEITOSA, A. Y. S.; NUNES, J. A. Aprendizagem: as dificuldades em foco. In: IV FORUM INTERNACIONAL DE PEDAGOGIA, 2012, Parnaíba. Anais.... Realize, Campina Grande, 2012. Disponível em: <http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/a96b65a721e561e1e3de768ac819ffbb.pdf>. Acesso em: 30 ago 2021.

 [3] GONÇALVES, D. L. S ; NAVARRO, E. C. Como trabalhar com a criança disléxica. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar, n.7, p. 81-85, 2012. Disponível em: <https://livrozilla.com/doc/1275558/como-trabalhar-com-crian%C3%A7a-disl%C3%A9xica>. Acesso em: 20 ago 2021.

 [4] NICHD, National Institute of Child Health and Human Development. Dislexia. 2015. Disponível em: <http://www.dislexia.org.br/index.php/o-que-e-dislexia>. Acesso em: 20 ago 2021.

[5] MACEDO, T. S.; BITTAR, K. R. Dificuldades e transtornos na aprendizagem da leitura e escrita. In: I Congresso de Iniciação Científica, Estágio e Docência, Formosa, 2016. Anais... Universidade Estadual de Goiás, Formosa, 2016. Disponível em: <file:///C:/Users/casa/Downloads/8782-Texto%20do%20artigo-26061-3-10-20170914%20(1).pdf>. Acesso em: 20 ago 2021

[6] RELVAS, M. P. Neurociência e transtornos de aprendizagem: as múltiplas eficiências para uma educação inclusiva. 5. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2011. 

[7] SAMPAIO, S. Dificuldades de aprendizagem: a psicopedagogia na relação sujeito, família e escola. 3. ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011.

[8] PIMENTEL, L. S.; LARA, I. C. M. Discalaculia: o cérebro e as habilidades matemáticas. Pontífice Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2017. Disponível em: <https://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/11591/2/Discalculia_o_cerebro_e_as_habilidades_Matematicas.pdf>. Acesso em: 02 set 2021.

 [9] COELHO, D. T. Dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia. Revista do Centro de Pesquisa do Estudo da Criança, 2011. Disponível em: <http://www.ciec-uminho.org/documentos/ebooks/2307/pdfs/8%20Inf%C3%A2ncia%20e%20Inclus%C3%A3o/Dislexia.pdf>. Acesso em: 20 ago 2021. 

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