Pesquisas demonstram que aproximadamente entre 5% e 15% da população escolar apresenta transtorno de aprendizagem. Estes transtornos são caracterizados pela discrepância entre o potencial cognitivo e o desempenho acadêmico, estando presente no indivíduo desde a fase mais precoce e persiste até a vida adulta. Carvalho, Ciasca e Rodrigues esclarecem que é possível identificar os transtornos de aprendizagem por meio de sinais neurológicos leves (soft signs), acompanhados, ou não, de comorbidades[1].
No estudo realizado por Carvalho, Ciasca
e Rodrigues, junto a 25 crianças, de ambos os sexos com idade entre 7 e 11 ano,
constatou-se que a idade motora de todos os sujeitos foi inferior à idade
cronológica. Diante desta evidência, as autoras defendem que “a motricidade
organiza as sensações e percepções que dão origem às aprendizagens cada vez
mais complexas”, o que denota que a desorganização psicomotora pode levar às
alterações na aprendizagem infantil. Para as autoras, “as crianças com
dificuldades de aprendizagem costumam ter mais deficiência na noção de corpo,
orientação, adaptação e exploração espacial”[1].
Os mais frequentes
transtornos de aprendizagem são: Dislexia, Déficit de Atenção, Discalculia, Disortografia
e Disgrafia[1][2].
A Dislexia frequentemente é percebida nas
crianças em idade escolar, sobretudo no momento da aquisição da leitura e da
escrita. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a Dislexia “como um
conjunto de transtornos nos quais os padrões normais de aquisição de
habilidades de leitura são perturbados desde os estágios iniciais do
desenvolvimento”. Embora este transtorno não tenha cura, ele pode ser amenizado
com tratamento apropriado – terapia e exercícios -, desenvolvido por
profissionais das áreas de Neuropsicopedagogia, Fonoaudiologia e Psicologia[3].
Segundo
o National
Institute of Child Health and Human Development, a Dislexia:
[...] é um transtorno específico de aprendizagem de origem
neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou
fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração. Essas
dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da
linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas[4].
Macedo e Bittar acrescentam que,
geralmente a Dislexia é acompanhada pela Disortografia, transtorno de aprendizagem
que compromete o desenvolvimento nas habilidades da escrita[5].
A Disortografia é um transtorno que atinge a
grafia, o que consequentemente compromete o desenvolvimento do processo de
aprendizagem da escrita, sendo muitas vezes confundido (e rotulado) com uma
dificuldade de aprendizagem.
Segundo Relvas, a Disortografia:
[...] é uma
perturbação que afeta as aptidões da escrita e que se traduz por dificuldades
persistentes e recorrentes na capacidade da criança em compor textos escritos.
As dificuldades centram-se na organização, estruturação e composição de textos
escritos; a construção frásica é pobre e geralmente curta, observa-se a
presença de múltiplos erros ortográficos e má qualidade gráfica[6].
·
A
substituição, omissão, junção e separação de letras;
·
A
troca de consoantes e vogais como f/v ou a/na;
·
A
substituição de letras que se diferenciam pela sua posição no espaço (“b”/“d”);
·
Confusão
com fonemas que apresentam dupla grafia (“ch”/“x”) - Casa/ caza;
·
Omissão
da letra “h” nas palavras, por não ter correspondência fonêmica;
·
Ausência
de sínteses e/ou associações entre fonemas e grafemas, trocando letras sem
qualquer sentido;
·
A
não separação das sequências gráficas, ex. o carro/ocarro;
·
Ignorar
as regras de pontuação;
·
Esquecer
de iniciar as frases com letra maiúscula[6].
A Disgrafia, conforme Sampaio, é um
transtorno de aprendizagem caracterizado pela escrita considerada desviante às
normas/padrão, ou seja, uma “caligrafia deficiente, com pouca definição da
letra e má proporcionalidade. A autora distingui dois tipos de Disgrafia:
·
Motora,
também conhecida como Discaligrafia que ocorre
quando a criança desenvolve a leitura, mas apresenta dificuldade para escrever
as letras, palavras e números, devido à má coordenação motora fina;
·
Perceptiva, quando a criança não relaciona a grafias (letras)
e os seus sons (fonemas), fato que impede que ela leia e escreva[7].
O Déficit de Atenção também é
um transtorno que pode prejudicar a aprendizagem, apesar de não ser um
transtorno especificamente da aprendizagem, os seus sintomas impedem o
desenvolvimento favorável deste processo. Sampaio elenca as principais características
deste transtorno:
·
Dificuldade
em seguir regras e planejamento;
·
Demora
no desenvolvimento da fala (4 a 5 anos);
·
Atraso
na coordenação motora;
·
Pouca
noção do perigo;
·
Tendência
em não terminar projetos;
·
Dificuldade
em ficar sem se mexer[7].
Pimentel e Lara, seguindo a definição da
Organização Mundial de Saúde, definem Discalculia:
Por fim, Pimentel e Lara acrescentam que
no “transtorno da Discalculia alguns processos cognitivos podem estar afetados,
tais como: velocidade de processamento de informações; memória de trabalho;
habilidades visuais, psicomotoras, perceptivos táteis; linguagem matemática”[8].
Referências
[1]
CARVALHO, M. C.; CIASCA, S. M.; RODRIGUES, S. D. Há relação entre
desenvolvimento psicomotor e dificuldade de aprendizagem? Estudo comparativo de
crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, dificuldade
escolar e transtorno de aprendizagem. Revista de Psicopedagogia, v. 32,
n. 99, p. 293-301, 2015. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862015000300003>.
Acesso em: 19 ago 2021.
[2] FEITOSA, A. Y. S.; NUNES, J. A. Aprendizagem: as dificuldades em foco. In: IV FORUM INTERNACIONAL DE PEDAGOGIA, 2012, Parnaíba. Anais.... Realize, Campina Grande, 2012. Disponível em: <http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/a96b65a721e561e1e3de768ac819ffbb.pdf>. Acesso em: 30 ago 2021.
[3] GONÇALVES, D. L. S ; NAVARRO, E. C. Como trabalhar com a criança disléxica. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar, n.7, p. 81-85, 2012. Disponível em: <https://livrozilla.com/doc/1275558/como-trabalhar-com-crian%C3%A7a-disl%C3%A9xica>. Acesso em: 20 ago 2021.
[4] NICHD, National Institute of Child Health and Human Development. Dislexia. 2015. Disponível em: <http://www.dislexia.org.br/index.php/o-que-e-dislexia>. Acesso em: 20 ago 2021.
[5] MACEDO, T. S.; BITTAR, K. R. Dificuldades e transtornos na aprendizagem da leitura e escrita. In: I Congresso de Iniciação Científica, Estágio e Docência, Formosa, 2016. Anais... Universidade Estadual de Goiás, Formosa, 2016. Disponível em: <file:///C:/Users/casa/Downloads/8782-Texto%20do%20artigo-26061-3-10-20170914%20(1).pdf>. Acesso em: 20 ago 2021
[6] RELVAS,
M. P. Neurociência e
transtornos de aprendizagem: as múltiplas eficiências para
uma educação inclusiva. 5. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2011.
[7]
SAMPAIO, S. Dificuldades de aprendizagem: a psicopedagogia na relação
sujeito, família e escola. 3. ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011.
[8] PIMENTEL, L. S.; LARA, I. C. M. Discalaculia: o cérebro e as habilidades matemáticas. Pontífice
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2017. Disponível em: <https://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/11591/2/Discalculia_o_cerebro_e_as_habilidades_Matematicas.pdf>.
Acesso em: 02 set 2021.
[9] COELHO, D. T. Dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia. Revista do Centro de Pesquisa do Estudo da Criança, 2011. Disponível em: <http://www.ciec-uminho.org/documentos/ebooks/2307/pdfs/8%20Inf%C3%A2ncia%20e%20Inclus%C3%A3o/Dislexia.pdf>. Acesso em: 20 ago 2021.
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